domingo, 28 de dezembro de 2008

Uma Poderosa Ferramenta

"O PODER DE UM ABRAÇO É INCOMENSURAVELMENTE MAIOR DO QUE SUPOMOS. QUANDO O FIZERMOS, SEJA COM A DEVIDA SINCERIDADE." (FMV, Escritos Esparsos, 2008, http://fmarcondesvelloso.blogspot.com)

sábado, 13 de dezembro de 2008

Rosa e Lixo

 
ROSA E LIXO

Thich Nhat Hanh

 Impuro ou imaculado. Sujo ou puro. Estes são conceitos que formamos em nossa mente. Uma bela rosa que recém cortamos e colocamos em um vaso é imaculada. Ela cheira tão bem, tão pura, tão fresca. Ela traduz a idéia de ser imaculada. O oposto é uma lata de lixo. Cheira muito mal e está cheia de coisas em putrefação.

 Porém, isto é apenas quando você olha superficialmente. Se você olhar mais profundamente, você verá que, em apenas uns cinco ou seis dias, a rosa se tornará parte do lixo. Você nem precisa esperar cinco dias para ver isto. Se você simplesmente olhar para a rosa, olhar profundamente, pode ver isto agora. E, se você olhar dentro da lata de lixo verá que em uns poucos meses seu conteúdo poderá transformar-se em adoráveis vegetais, e até mesmo em uma rosa. Se você for um bom jardineiro orgânico e tiver os olhos de um bodhisattva, olhando para a rosa, poderá ver o lixo, e olhando para o lixo, poderá ver uma rosa. Rosas e lixo intersão. Sem uma rosa não podemos ter lixo. E sem o lixo, não podemos ter uma rosa. Eles precisam muito um do outro. A rosa e o lixo são iguais. O lixo é tão precioso quanto a rosa, na mesma medida. Se nós olharmos profundamente para os conceitos de impureza e pureza, seremos remetidos para a noção de interser.

 No Majjhima Nikaya, há uma pequena passagem sobre como o mundo surgiu. É muito simples, muito fácil de entender e, no entanto, muito profunda: "Isto é porque aquilo é. Isto não é porque aquilo não é. Isto é deste jeito, porque aquilo é daquele jeito". Este é o ensinamento budista sobre a Gênese.

 Na cidade de Manila há muitas jovens prostitutas, algumas delas com apenas quatorze ou quinze anos de idade. Elas são mocinhas muito infelizes. Elas não queriam ser prostitutas. Suas famílias são pobres e estas jovens meninas vieram para a cidade procurar por algum tipo de trabalho, como vendedoras de rua, para conseguir dinheiro e remetê-lo para suas famílias. Claro que isto não ocorre apenas em Manila, mas na cidade de Ho Chi Minh no Vietnam, em Nova York e em Paris também. É verdade que na cidade você pode conseguir dinheiro mais facilmente do que no campo, então nós podemos imaginar como uma jovem menina pode ter sido tentada a ir até lá para ajudar sua família. Mas, depois de algumas poucas semanas ali, ela foi persuadida por alguma pessoa esperta a trabalhar para ela e ganhar talvez cem vezes mais dinheiro. Pelo fato de ser tão jovem, e não saber muita coisa sobre a vida, ela aceitou e se tornou uma prostituta. Desde aquele momento, ela carrega o sentimento de ser impura, suja, e isto lhe causa grande sofrimento. Quando ela olha para as outras meninas, belamente vestidas, pertencentes a boas famílias, um sentimento horrível cresce nela, e este sentimento de impureza transforma-se no seu inferno.

 Porém, se ela tivesse uma oportunidade de encontrar-se com Avalokita, ele lhe diria para olhar profundamente para si mesma e para toda a situação e ver que ela está deste jeito porque outras pessoas estão daquele outro modo. "Isto é assim, porque aquilo é assado." Então, como pode uma chamada "boa garota", pertencente a uma boa família, ser orgulhosa? Porque o seu modo de vida é assim, o da outra menina tem que ser daquela outra maneira. Entre nós, ninguém tem as mãos limpas. Ninguém pode afirmar que isto não é nossa responsabilidade.

 A garota em Manila é daquele jeito por causa do modo como nós somos. Olhando para dentro da vida daquela jovem prostituta, nós vemos as pessoas não-prostitutas. E, olhando para as pessoas não-prostitutas, e para a maneira como vivemos nossas vidas, nós vemos a prostituta. Isto ajuda a criar aquilo, e aquilo ajuda a criar isto.

 Vamos olhar para a opulência e a miséria. A sociedade opulenta e a sociedade carente de tudo intersão. A opulência de uma sociedade é feita da miséria da outra. "Isto é assim, porque aquilo é como é." A riqueza é feita de elementos não-riqueza, e a pobreza, de elementos não-pobreza. E exatamente o mesmo que com a folha de papel. Então, nós precisamos ser cuidadosos. Não deveríamos nos aprisionar em conceitos. A verdade é que cada coisa soma todas as demais coisas. Nós só podemos interser, não podemos apenas ser. E nós somos responsáveis por tudo o que acontece à nossa volta.

 Avalokitesvara dirá para a jovem prostituta: "Minha criança, olhe para você mesma e você verá tudo. Porque as outras pessoas estão daquele jeito, você está assim. Você não é a única pessoa responsável, então por favor, não sofra." Somente olhando com os olhos do interser é que aquela jovem menina pode libertar-se do seu sofrimento. O que mais você pode oferecer a ela para ajudá-la a ser livre?

 Nós estamos aprisionados por nossas idéias de bem e mal. Nós queremos ser somente bons, e remover tudo que é mau. Mas isto ocorre porque esquecemos que o bem é feito de elementos não-bem. Suponha que eu esteja segurando um adorável ramo. Quando olhamos para ele com uma mente não-discriminativa, vemos este maravilhoso ramo. Porém, assim que distinguimos que uma ponta é a esquerda e a outra é a direita, nós temos um problema. Nós podemos dizer que queremos apenas a esquerda, que não queremos a direita - como vocês ouvem frequentemente -, e imediatamente surge um problema. Se o "direitista" não estiver lá, como pode você ser um "esquerdista"? Vamos dizer que eu não queira a ponta direita deste ramo, só quero a da esquerda. Então, eu quebro na metade esta realidade e a jogo fora. Mas, tão logo eu tenha jogado a metade não desejada fora, a ponta que permanece se torna direita - a nova direita. Porque desde que a esquerda esteja lá, a direita deve também estar. Eu posso ficar frustrado e tentar novamente. Eu quebro o que sobrou do meu ramo pela metade e mesmo assim tenho a ponta direita aqui.

 O mesmo pode ser aplicado ao bem e ao mal. Você não pode ser apenas bom. Você não pode esperar remover o mal, porque graças ao mal, o bom existe, e vice-versa. Quando você encena uma peça teatral relacionada a um herói, você precisa providenciar um antagonista para que o herói possa ser um herói. Assim, o Buda precisa de Mara para assumir o papel de mau para que o Buda possa ser um Buda. O Buda é tão vazio quanto a folha de papel. O Buda é feito de elementos não-Buda. Se não-Budas como nós não estivessem aqui, como poderia haver um Buda? Se os "direitistas" não estiverem ali como poderemos chamar alguém de "esquerdista"?

 Na minha tradição, toda a vez que junto as palmas das mãos para fazer uma profunda reverência ao Buda, eu canto este versinho:

Aquele que se inclina e presta respeito,
E aquele que recebe a reverência e o respeito,
Ambos são vazios.
Por isso é que a comunhão é perfeita.

 Não é arrogante dizer isto. Se eu não for vazio, como posso prostrar-me para o Buda? E se o Buda não for vazio, como pode receber minha reverência? O Buda e eu intersomos. O Buda é feito de elementos não-Buda, como eu. E eu sou feito de elementos não-eu, como o Buda. Assim, o sujeito e o objeto de reverência são ambos vazios. Sem um objeto, como pode existir um sujeito?

 No Ocidente, vocês têm lutado por muitos anos com o problema do mal. Como é possível para o mal estar ali? Parece que é difícil para a mente ocidental compreender. Mas, sob a luz da não-dualidade, não há problema: - Tão logo a idéia do bem esteja ali, a idéia do mal estará lá também. O Buda precisa de Mara a fim de revelar-se e vice-versa. Quando você perceber a realidade desta maneira, você não discriminará contra o lixo em beneficio de uma rosa. Você apreciará a ambos. Você precisa tanto da direita quanto da esquerda para ter um ramo. Não tome partidos. Se você toma partido, você estará tentando eliminar metade da realidade, o que é impossível.

 Por muitos anos, os Estados Unidos tentaram descrever a Rússia como o lado mau. Alguns americanos até mesmo tiveram a ilusão de que eles poderiam sobreviver sozinhos, sem a outra metade. Porém, isto é o mesmo que acreditar que o lado direito pode existir sem o lado esquerdo. E este mesmo sentimento existe na Rússia. Os americanos imperialistas, é dito, estão do lado mau e devem ser eliminados para haver possibilidade de felicidade no mundo. Mas, esta é a forma dualista de ver as coisas. Se nós olharmos para a América muito profundamente, nós vamos ver a Rússia. Se nós olharmos profundamente para a Rússia, veremos a América. Se nós olharmos profundamente para a rosa, nós veremos o lixo. Se nós olharmos profundamente para o lixo, veremos a rosa. Nesta situação internacional, cada lado finge ser a rosa, chamando o outro lado de lixo.

 Então a idéia está clara de que "isto é porque aquilo é". Você tem que trabalhar pela sobrevivência do outro lado se você mesmo quer sobreviver. É realmente muito simples. Sobreviver significa a sobrevivência da humanidade como um todo, não só uma parte dela. E nós sabemos agora que isto deve ser consumado não somente entre Estados Unidos e Rússia, mas também entre o Norte e o Sul. Se o Sul não puder sobreviver, então o Norte vai sucumbir. Se os países do Terceiro Mundo não podem pagar suas dívidas, haverá sofrimento aqui no Norte. Se você não cuidar do Terceiro Mundo, o seu bem-estar não vai durar muito e você não será capaz de continuar vivendo da mesma forma por muito tempo mais. Isto já está ficando mais do que evidente.

 Então, não espere eliminar o lado mau. E fácil pensar que estamos do lado bom e que o outro lado é mau. Mas, a opulência é feita de miséria, e a miséria é feita de opulência. Esta é uma visão muito clara da realidade. Nós não precisamos ir longe para ver o que temos de fazer. Os cidadãos da Rússia e os cidadãos dos Estados Unidos são apenas seres humanos. Nós não podemos estudar e compreender um ser humano apenas por estatísticas. Você não pode deixar a tarefa somente para os governos e cientistas políticos. Você mesmo tem de fazê-la. Se você chegar a uma compreensão dos medos e esperanças de um cidadão russo, então você poderá compreender os seus próprios medos e esperanças. Somente a penetração na realidade pode nos salvar, O medo não pode nos salvar. Nós não estamos separados. Estamos indissoluvelmente inter-relacionados. A rosa é o lixo, e a não-prostituta é a prostituta. O homem rico é a própria mulher pobre e o budista é o não-budista, O não-budista não pode deixar de ser um budista porque nós intersomos. A emancipação da jovem prostituta virá assim que ela puder ver dentro da natureza do interser. Ela saberá que está carregando o fruto do mundo inteiro. E, se nós olharmos para dentro de nós mesmos e pudermos vê-la, nós carregaremos a dor dela, e a dor do mundo inteiro.

"Order of Interbeing", Plum Village

terça-feira, 25 de novembro de 2008

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

A Visão Planetária de Barack Obama

"EU TENHO UM SONHO..."
Discurso de Martin Luther King (28/08/1963)

"E quando isto acontecer, quando nós permitirmos o sino da liberdade soar, quando nós deixarmos ele soar em toda moradia e todo vilarejo, em todo estado e em toda cidade, nós poderemos acelerar aquele dia quando todas as crianças, homens pretos e homens brancos, judeus e gentios, protestantes e católicos, poderão unir mãos e cantar..."

* * * * * * *

O Presidente Eleito dos Estados Unidos
Resgata Idéias da Filosofia Teosófica Clássica


Por Carlos Cardoso Aveline

“O verdadeiro teosofista não pertence a nenhum
culto ou seita, e no entanto pertence a todos eles.”
(Robert Crosbie)

“Em nossa casa, a Bíblia, o Alcorão e o Bhagavad
Gita ficavam na prateleira juntamente com os livros
da mitologia grega, norueguesa e africana. Na
Páscoa ou no Natal [minha mãe] me arrastava para
a igreja, assim como para templos budistas, para a
celebração do Ano Novo chinês, para santuários
xintoístas ou para antigos locais de rituais havaianos.”
(Barack Obama)

A teosofia é uma filosofia planetária e a sua meta primeira é despertar a compreensão e a vivência da fraternidade universal. Assim como o movimento teosófico, ela é independente de rótulos, nomes pessoais, ideologias ou organizações. O que define o verdadeiro campo de ação da teosofia clássica e do seu estudante são fatores muito reais mas intangíveis como a compreensão das leis da natureza, a consciência ética e uma solidariedade para com todos os seres.

Ter acesso à sabedoria divina é um assunto de almas e não de corporações ou instituições. William Judge, um dos principais fundadores do movimento esotérico moderno, escreveu:

“Como o Movimento Teosófico é contínuo, ele pode ser encontrado em todos os tempos e todas as nações. Onde quer que o pensamento venha lutando para ser livre, onde quer que as idéias espirituais tenham sido promulgadas em oposição às formas e ao dogmatismo, lá o grande movimento pode ser percebido.” [1]

Deste ponto de vista, um cidadão de boa vontade e visão ampla pode ser considerado um verdadeiro teosofista, ainda que não seja membro de qualquer agrupação teosófica. Não importa se ele é cristão, judeu, budista, muçulmano ou seguidor de uma ou de outra filosofia. Na medida em que ele compreende a universalidade da ética planetária, sua vida ajuda a abrir espaço para a percepção da fraternidade universal, e ele é um verdadeiro teosofista, no plano da alma.

Este talvez seja o caso do senador Barack Obama, eleito presidente dos Estados Unidos em novembro de 2008 e que agora se prepara para assumir a liderança do país mais influente do nosso processo civilizatorio. Examinando fatos da vida de Obama e fragmentos dos livros que escreveu, poderemos avaliar o tamanho da afinidade entre ele e a ética e a sabedoria universais.

Derrubar os Muros Entre Povos, Raças e Religiões.

Em julho de 2008, Barack Obama falou em Berlim, Alemanha, para uma multidão calculada pelas autoridades policiais em duzentas mil pessoas. Ele abriu o evento sem precedentes esclarecendo que estava ali na condição de “cidadão do mundo” – uma expressão que contém em si mesma a idéia da cidadania planetária e de um mundo sem fronteiras. Ali estava um cidadão em campanha eleitoral nos Estados Unidos, falando em manifestação de rua em país europeu. Em seguida, Obama formulou a sua proposta de cooperação entre todos os povos. Referindo-se indiretamente à derrubada democrática do Muro de Berlim, em 1989, ele disse:

“A solidariedade e a cooperação entre as nações não é uma escolha. É o único caminho, o único caminho, para proteger a nossa segurança comum e fazer avançar a nossa humanidade comum. É por isso que o maior de todos os perigos seria permitir que novos muros nos dividam um dos outros. Os muros entre os velhos aliados dos dois lados do Atlântico não podem ficar de pé. Os muros entre os países que têm muito e os países que têm muito pouco não podem ficar de pé. Os muros entre raças e tribos; nativos e imigrantes; cristãos e muçulmanos e judeus, não podem ficar em pé. Estes são, agora, os muros que nós devemos derrubar. Nós sabemos que eles caíram antes. Depois de séculos de conflito, os povos da Europa formaram uma união promissora e próspera.”

E prosseguiu:

“Aqui, na base de uma coluna construída para marcar a vitória na guerra, nós nos encontramos no centro de uma Europa em paz. Muros caíram não só em Berlim, mas eles vieram abaixo em Belfast, onde os protestantes e os católicos descobriram uma maneira de viver lado a lado; nos Balcãs, onde a nossa aliança Atlântica terminou as guerras e apresentou criminosos de guerra à justiça; e na África do Sul, onde a luta de um povo corajoso derrotou o apartheid. Assim, a história nos faz lembrar do fato de que os muros podem ser derrubados. Mas a tarefa nunca é fácil. A verdadeira cooperação e o verdadeiro progresso requerem um trabalho constante e um sacrifício contínuo. Eles exigem que se compartilhe as responsabilidades do desenvolvimento e da diplomacia; do progresso e da paz. Eles requerem aliados que escutam uns aos outros, que aprendem uns dos outros, e, sobretudo, que confiam uns nos outros.” [2]

Libertar o Mundo Das Armas Nucleares.

Barack Obama acrescentou:

“Este é o momento em que devemos renovar a meta de um mundo sem armas nucleares. As duas superpotências que olhavam uma para a outra através do muro desta cidade estiveram demasiado perto, por um tempo demasiado longo, de destruir tudo o que nós construímos e tudo o que amamos. Com o final daquele muro, nós não necessitamos ficar parados sem fazer nada, olhando para a proliferação da energia atômica mortal. (...) Este é o momento de começar a trabalhar em busca da paz de um mundo livre de armas nucleares.”

Depois ele falou vigorosamente da necessidade de paz no Oriente Médio, e abordou a questão da ecologia planetária. Obama disse:

“Este é o momento em que devemos unir-nos para salvar este planeta. Devemos tomar a decisão de que não deixaremos para nossos filhos um mundo em que os oceanos se elevam, e a fome se espalha, e tempestades terríveis devastam as nossas terras. Devemos decidir que todas as nações – inclusive a minha própria – agirão com a mesma seriedade de propósito que a sua nação [a Alemanha], e reduzirão o carbono que colocam na atmosfera. [3] Este é o momento em que devemos devolver às nossas crianças o futuro que pertence a elas. Este é o momento para agirmos em unidade.” [4]

A Intenção de Refazer o Mundo.

Obama parece saber o que deve fazer. E não pode ser acusado de possuir metas demasiado pequenas. Filho de um queniano, e nascido Havaí, ele concluiu o seu principal discurso fora dos Estados Unidos com estas palavras:

“Povo de Berlim – povo do mundo – este é o nosso momento. Esta é a nossa vez. Eu sei que meu país não tem se aperfeiçoado. (...) Nós temos a nossa quota de erros. (...) Mas também sei que (...) durante mais de duzentos anos, nós temos nos esforçado (...) com outras nações, [por] um mundo com mais esperança. Nosso compromisso nunca foi com qualquer tribo ou reino especificamente – na verdade, todas as línguas são faladas em nosso país; todas as culturas deixaram sua marca na nossa cultura; e cada ponto de vista é expressado em nossas praças públicas. O que sempre nos uniu – o que sempre mobilizou o meu povo – o que atraiu o meu pai para o território norte-americano, é um conjunto de ideais que correspondem a aspirações compartilhadas por todos os povos: a crença de que podemos viver livres do medo e de necessidades materiais graves; de que podemos dizer o que pensamos, e reunir-nos com quem quisermos, e seguir a religião que acharmos melhor. (...) Povo de Berlim – e povo do mundo – a escala do nosso desafio é grande. O caminho à frente será longo. Mas venho dizer a vocês que somos herdeiros de uma luta por liberdade. Que somos um povo de esperanças improváveis. Com o olhar voltado para o futuro, com decisão em nossos corações, que possamos lembrar desta história, fazer frente ao nosso destino e refazer o mundo mais uma vez.”

Muito antes do discurso de Berlim, Obama já tinha esta clareza de metas.

Em fevereiro de 2007, ao fazer o discurso de lançamento da sua candidatura, ele assumira um compromisso com a mudança ética e ecológica em escala planetária:

“Sejamos a geração que finalmente liberta a América do Norte da tirania do petróleo. Podemos usar combustíveis alternativos, produzidos localmente, como o etanol, e aumentar a produção de carros com mais eficiência energética. Podemos estabelecer um sistema de fixação de gases que produzem o efeito estufa. Podemos transformar esta crise de aquecimento global em uma oportunidade para inovar, e para criar empregos, e para incentivar empreendimentos que servirão de modelo para o mundo. Sejamos a geração que faz com que as futuras gerações tenham orgulho do que nós fizemos aqui.” [5]

Sem receio de assumir metas visionárias – e olhando muito além das eleições norte-americanas –, ele disse naquela ocasião inaugural:

“E se vocês se somam a mim nesta luta improvável, se vocês sentem o chamado do destino, e vêem, como eu vejo, que o momento de acordar e de abandonar o medo é agora, assim como o momento de pagar a dívida que temos diante das gerações passadas e futuras, então estou pronto a assumir esta causa e marchar com vocês, e trabalhar com vocês. Juntos, a partir de hoje, que completemos o trabalho que necessita ser feito, de trazer para esta Terra um novo nascimento da liberdade.” [6]

A Regra de Ouro.

A proposta de Obama para os Estados Unidos e o mundo é acusada por seus adversários de ser vaga e ambígua. Ele chegou a ser qualificado como “pouco norte-americano”. A verdade é que ele tem uma visão mais complexa e mais profunda do que meras bandeiras eleitorais ou nacionalistas. A base do seu discurso é simultaneamente inter-religiosa, ética e filosófica. Está na famosa Regra de Ouro, um velho princípio da filosofia clássica grega e da antiga sabedoria oriental, que foi ensinado por Confúcio nos “Analectos” e adotado mais tarde pelo cristianismo. Este princípio ético milenar poderia ser chamado, corretamente, de “lei do bom carma”.

Obama esclarece:

“No final das contas, o que se necessita é nada mais, nada menos, que aquilo que todas as grandes religiões do mundo exigem – que façamos aos outros aquilo que queremos que eles façam a nós. Devemos proteger o nosso irmão, como a escritura diz. Devemos proteger a nossa irmã. Devemos encontrar aquele interesse comum que todos temos uns nos outros, e fazer com que a nossa política reflita este espírito.” [7]

O Espírito de Aloha.

O que será que existe de autenticamente teosófico na vida real de Barack Obama, e que possa explicar o seu constante discurso de adesão e de compromisso com a Ética Universal presente em todas as religiões? Qual é a sua formação, do ponto de vista da visão universalista da vida? Em que atmosfera Obama foi criado?

Ele nasceu em agosto de 1961 no Havaí. Não por casualidade a sua vida e suas idéias parecem expressar, até certo ponto, o espírito de “Aloha”.

A palavra “Aloha” é um verdadeiro mantra sagrado na cultura havaiana, famosa mundialmente por sua abertura mental e fraternidade em relação a todos os povos. É uma saudação e um conceito universalista. O termo é considerado equivalente à palavra sânscrita “Namastê” (“a divindade em mim saúda a divindade em você”); mas também significa “Shalom”, “Paz”, assim como “Compaixão” e “Amizade”.

O chamado “espírito de Aloha” implica um estado mental de paz consigo mesmo e com todos os seres. A filosofia, o discurso e a prática de Barack Obama parecem expressar alguma coisa deste mantra e desta cultura presentes em sua juventude.

Os avós maternos de Barack, que tiveram um papel central na educação do garoto, não só viviam no Havaí com o neto mas foram influenciados em determinado momento pela Igreja Unitária Universalista. Esta era uma igreja que buscava a confraternização das religiões e que mantinha laços estreitos com a Sociedade hinduísta Brahmo Samaj. A pensadora russa Helena Blavatsky escreveu extensamente sobre o movimento Brahmo Samaj, elogiando seu fundador e criticando os erros cometidos por seus líderes posteriores. [8] Barack Obama escreveu, sobre seu avô materno:

“Ele gostava da idéia de que os Unitários estudavam as escrituras de todas as grandes religiões”.

Para o avô, segundo Barack, era “como ter cinco religiões em uma”. [9]

Um Avô Que Era Curandeiro Africano.

Quanto ao avô paterno de Barack Obama, Hussein Onyango Obama, ele foi um curandeiro africano do Quênia, um muçulmano com poderes de cura e imerso nas tradições da cultura local. [10]

O pai de Barack Obama, africano e negro, também se chamava Barack. Este foi seu mestre e seu herói. Barack, o pai, deixou na vida de Barack, o filho, uma presença transcendente e uma influência mítica. No mundo infantil de Barack, o mundo intangível em que seu pai existia se misturava de algum modo com as origens do cosmo.

Cabe lembrar que a origem e o destino do universo é um tema teosófico por excelência.

Na sabedoria esotérica oriental, o assunto se relaciona com o caminho das grandes iniciações. Ao longo da sua obra “A Doutrina Secreta”, H. P. Blavatsky faz um estudo comparado das principais narrativas da origem do universo e do homem, mostrando os pontos em comum que há entre os relatos dos caldeus, da Bíblia, do Popol Vuh centro-americano, dos Puranas hindus, da Cabala judaica e de muitos outros povos. Barack Obama enfrentou este tema cósmico em sua infância, junto ao tema do pai-mito.

Em um dos seus livros, ele confessa, não sem humor:

“... O caminho da vida do meu pai ocupava o mesmo terreno que um livro que minha mãe comprou uma vez para mim, um livro chamado “Origens”, uma coleção de histórias da Criação de todas as partes do mundo, histórias de Gênese e da árvore na qual havia nascido o homem, Prometeu e o presente do fogo, a tartaruga da lenda hindu que flutuava no espaço, sustentando o peso do mundo sobre as suas costas. Mais tarde, quando fiquei mais acostumado ao caminho estreito para a felicidade a ser encontrado na televisão e nos filmes, eu ficava perplexo com várias questões. Em que se apoiava a tartaruga? Por que motivo um Deus onipotente permitiu que uma serpente causasse tamanho sofrimento? Por que meu pai não voltava? Mas com cinco ou seis anos de idade eu estava satisfeito com deixar estes mistérios distantes intactos...”. [11]

Mãe Universalista e Anti-Dogmática.

Foi a mãe de Obama, branca e norte-americana, que lhe transmitiu na vida diária a visão inter-religiosa e universalista, assim como o hábito diário do auto-treinamento e da auto-disciplina. Ela mantinha uma distância crítica das religiões dogmáticas, assim como faz a teosofia clássica e original, enquanto a pseudo-teosofia, lamentavelmente, cria versões próprias da religiosidade exotérica, com seus dogmas e sacerdotes.

Barack escreve que seus avós passaram à sua mãe uma combinação de racionalismo com jovialidade, e acrescenta:

“As próprias experiências de minha mãe como criança sensível e amiga dos livros, que crescia nas pequenas cidades do Kansas, Oklahoma e Texas, apenas reforçaram o ceticismo que herdara. As lembranças dos cristãos que povoavam sua juventude não eram das mais agradáveis. Ela ocasionalmentese recordava dos pregadores que baniam três quartos da população mundial por considerá-los pagãos ignorantes condenados a passar a vida eterna em maldição – e que insistiam que a terra e o céu foram criados em sete dias , com todas as provas geológicas e astrofísicas dizendo o contrário. Lembrava-se das mulheres respeitáveis da igreja, sempre tão rápidas em evitar as pessoas que não correspondessem aos seus padrões de decência, apesar de elas próprias ocultarem segredinhos sujos; dos pastores que proferiam epítetos raciais e ludibriavam os trabalhadores para tirar deles todo o dinheiro que conseguissem.”

Tal mediocridade “religiosa” não ocorria por acaso. Há um contexto maior em torno deste tipo de estreiteza de horizontes, que não é um fenômeno local, mas constitui na verdade um problema de escala global, combatido de frente pelos estudantes da teosofia original.

A verdadeira religiosidade não pode ser transformada em prisioneira de uma instituição ou ritual, nem pode distanciar-se por um momento da filosofia ou da ciência. Ela deve, isto sim, avançar inter-disciplinarmente, unida ao livre-pensamento.

Na famosa Carta 88 de “Cartas dos Mahatmas” (Ed. Teosófica, Brasília, dois volumes) , um mestre dos Himalaias – um raja-iogue – afirma que dois terços do sofrimento humano são causados pela falsidade e pelas ilusões provocadas pelas religiões dogmáticas e sacerdotais.

Barack Obama prossegue:

“Para minha mãe, a religião organizada muito frequentemente esconde sua mentalidade limitada sob o manto da piedade; e a crueldade e a opressão, sob o da honestidade. Mas isso não quer dizer que ela não me transmitiu valores religiosos. Para minha mãe, o conhecimento de pontos importantes das grandes religiões do mundo era uma parte necessária de uma educação impecável. Em nossa casa, a Bíblia, o Alcorão e o Bhagavad Gita ficavam na prateleira juntamente com os livros da mitologia grega, norueguesa e africana. Na Páscoa ou no Natal [minha mãe] me arrastava para a igreja, assim como para templos budistas, para a celebração do Ano Novo chinês, para santuários xintoístas ou para antigos locais de rituais hawaianos. Mas fui educado para entender que isso não exigia nenhum compromisso de longo prazo da minha parte, nenhum esforço introspectivo maior ou autoflagelação. Para minha mãe, a religião era uma expressão da cultura humana; ela não explicava a origem da humanidade, era apenas uma das muitas formas – e não necessariamente a melhor maneira – de o homem tentar controlar o desconhecido e entender as mais profundas verdades sobre nossa vida. Em suma, minha mãe via a religião pelos olhos da antropóloga que ela viria a ser; era um fenômeno a ser tratado com respeito, mas também com desapego. (.....) E, apesar do seu secularismo, minha mãe era de muitas formas a pessoa mais espiritualizada que conheci. Tinha um instinto inabalável para a bondade, a caridade e o amor, e passou grande parte da sua vida agindo de acordo com estes instintos, às vezes em detimento de si mesma. Sem a ajuda de textos religiosos ou autoridades externas, trabalhou muito para transmitir a mim os valores que muitos norte-americanos aprendem na escola dominical: honestidade, empatia, disciplina, capacidade de postergar a gratificação pessoal e trabalho duro. Enfurecia-se com a pobreza e a injustiça, e desprezava aqueles que eram indiferentes a ambas.” [12]

Uma Visão Racional e Universalista.

Barack construiu sua vida sobre este alicerce filosófico e emocional, intelectualmente profundo mas também inseparável de atitudes práticas e concretas.

Em suas obras, o leitor encontra passagens em que ele faz, de várias formas, uma declaração de princípios.

Não é difícil perceber que o raciocínio de Barack está baseado em uma visão ampla e universal que pode ser qualificada de claramente teosófica no sentido clássico da palavra. Ele afirma:

“... Dada a diversidade crescente da população norte-americana, os perigos do sectarismo nunca foram maiores. O que quer que já tenhamos sido, não somos mais apenas uma nação cristã; somos também uma nação judaica, muçulmana, budista, e uma nação de descrentes.”

E prossegue:

“Mas presumamos que só tivéssemos cristãos dentro dos limites das nossas fronteiras. Que cristianismo ensinaríamos nas escolas? (....) Que passagens do Evangelho deveriam guiar nossa política pública? Deveríamos seguir o Levítico, que sugere que não há nada de errado com a escravidão e que comer moluscos é uma abominação? E quanto ao Deuteronômio, que sugere apedrejar seu filho caso ele se desvie da fé? Ou deveríamos nos limitar apenas ao Sermão da Montanha – uma passagem tão radical que é duvidoso que nosso Departamento de Defesa sobrevivesse à sua aplicação?”

Definitivamente, a crença cega na letra morta deve ser abandonada.

Os princípios essenciais devem ser percebidos, e eles estão além das formas visíveis. Obama conclui propondo a opção pelo bom senso:

“O que nossa democracia deliberativa e pluralista exige é que pessoas motivadas religiosamente traduzam suas preocupações para valores universais, não determinados pela religião. Isto exige que suas propostas estejam sujeitas a discussões e abertas à razão.” [13]

NOTAS:

[1] “Theosophical Articles”, William Q. Judge, The Theosophy Co., Los Angeles, 1980, edição em dois volumes, ver vol. II, p. 124.

[2] “Change We Can Believe In - Barack Obama’s Plan to Renew America’s Promise”, livro com o programa de governo e sete discursos de Obama, publicado por Three Rivers Press, New York, 2008, 274 pp., ver pp. 265-266.

[3] A Alemanha é um dos países do mundo em que há mais consciência ambiental. A própria Chanceler atual, Angela Merkel, têm uma longa trajetória pessoal de compromisso com a preservação do meio ambiente.

[4] “Change We Can Believe In”, obra citada, p. 267 a 269.

[5] “Change We Can Believe In”, obra citada, pp. 198-199.

[6] “Change We Can Believe In”, obra citada, pp. 201-202.

[7] “Change We Can Believe In”, obra citada, p. 228.

[8] Veja, por exemplo, “The Collected Writings”, Helena Blavatsky, TPH, Índia, volume III, pp. 55-61 e pp. 286-287. E também “The Collected Writings”, volume IV, pp. 439-443, entre outros textos.

[9] “Dreams From My Father”, Barack Obama, Three Rivers Press, 1995 e 2004, New York, 458 pp., ver p. 17.

[10] “Dreams From My Father”, Barack Obama, obra citada, ver p. 09.

[11] “Dreams From My Father”, obra citada, p. 10.

[12] “A Audácia da Esperança”, Barack Obama, Larousse do Brasil, SP, 2007, 400 pp., ver pp. 221, 222 e 223. Nesta citação, segui a edição original em língua inglesa nos casos em que a versão brasileira está inexata. Ver “The Audacity of Hope”, Three Rivers Press, 376 pp., 2006, pp. 203-204.

[13] As citações feitas nestes últimos parágrafos vêm de “A Audácia da Esperança”, obra citada, pp. 236-237.

Fonte: http://www.filosofiaesoterica.com.

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Campanha de Sustentabilidade e Consciência Universal

 

Campanha de Sustentabilidade e Consciência Universal
 

1. Consuma menos o planeta
2. Coma menos, faça menos barulho
3. Produza menos lixo e poluição
4. Demande menos, ofereça mais
5. Que você não seja mais um peso!
6. Seja discreto, conviva em harmonia
7. O mundo apenas lhe deu acolhida, 

não o direito de o destruir
8. Participe, pratique, compartilhe!
9. O Planeta agradece
10. Ame e respeite a vida!


PS Não coma animais, toda vida deve ser respeitada. Não judie de animais, toda vida deve ser respeitada. Não aprisione animais, toda vida deve ser respeitada. Não compre produtos cujos laboratórios façam testes animais,  
TODA VIDA DEVE SER RESPEITADA!

Nos Cantos da Terra recomenda alimentação vegana.

Também essa outra mensagem, de Paul McCartney, 
tem mudado milhões de mentes: 
"Glass Walls" vídeo, legendado: http://youtu.be/Zo-9XJNAWqw.

terça-feira, 7 de outubro de 2008

Outro Ser Humano é possível

 
OUTRO SER HUMANO É POSSÍVEL
Manifesto pela libertação dos animais
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 Bilhões de seres vivos são confinados, torturados e sacrificados a cada ano por nossa espécie. Este massacre desumanizador pode ser perfeitamente evitado – desde que se deixe de rebaixar os animais ao status de propriedade.

 Segundo o ministério norte-americano da Agricultura, só os Estados Unidos abatem mais de oito bilhões de animais por ano, para alimentação. A cada dia, mais de 22 milhões são sacrificados nos abatedouros dos EUA isto é: mais de 950 mil por hora, 16 mil por minuto! Apesar dos progressos efetuados nos últimos anos, continuam a ser mantidos em condições de criação intensiva apavorantes, mutilados de diversas maneiras, sem anestésicos, transportados por longas distâncias em compartimentos exíguos e insalubres, para serem finalmente executados aos gritos, no ambiente fétido e imundo de um abatedouro.
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 Os animais silvestres não estão em situação melhor. Nos Estados Unidos, cerca de 200 milhões são vítimas da caça, todos os anos. Milhões são também utilizados para a pesquisa biomédica e o teste de novos produtos. Medem-se neles o efeito de toxinas, de doenças raras, de moléculas experimentais, das radiações, dos tiros de armas de fogo e são submetidos a múltiplas formas de privações físicas ou psicológicas. Se sobrevivem aos experimentos, são quase sempre mortos logo em seguida ou reciclados para outras experiências, que dessa vez porão fim à sua resistência. Circos, zoológicos, desfiles, parques, espetáculos de golfinhos e outros utilizam os animais com o único fim de divertir. Mais de 40 milhões de bichos de pelo são abatidos, a cada ano, pela moda...
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 Antes do século 19, os animais eram considerados objetos. Mesmo para Descartes, um gemido de cão era semelhante ao rangido de um mecanismo que precisasse de óleo. Falar de nossas obrigações morais para com os animais, “máquinas criadas por Deus”, não tinha, para o autor do Discurso do Método, mais sentido do que falar de nossas obrigações morais para com os relógios, máquinas criadas pelos homens.
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 O princípio humanista do tratamento médico dos bichos doentes e a aplicação de leis sobre o bem-estar animal que dele resulte supõe que aceitemos perguntar a nós mesmos se o sofrimento animal é indispensável. Se o fato de não utilizar os animais para nosso conforto causaria a nós mais prejuízo do que o sofrimento causa aos animais. Em geral, o interesse humano prevalece, e o sofrimento animal é considerado “um mal necessário”. Por exemplo, a lei britânica que regula a utilização de animais de laboratório exige, antes que um experimento comece, uma avaliação dos “possíveis efeitos nocivos sobre os animais envolvidos, em relação ao benefício que possa resultar do experimento”.
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 Para que uma proibição do sofrimento animal tenha algum alcance, é preciso que condene qualquer dor inflingida unicamente por prazer, diversão ou conveniência. Usar um casaco de pele, impor às cobaias múltiplos testes para os produtos domésticos ou novas marcas de batom não tem relação com nenhum interesse vital para o ser humano. Comer carne é considerado nocivo à saúde pela maior parte dos nutricionistas. Aliás, especialistas em ecologia apontaram os danos que a criação intensiva causa ao nosso ambiente. Para cada quilograma de proteínas animais fornecidas, o animal deve consumir cerca de 6 quilogramas de proteínas vegetais e de forragem. Além disso, produzir um quilo de carne exige mais de 100 mil litros de água, enquanto a produção de um quilo de trigo não chega a exigir 900 litros...
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Propriedade, base para a escravidão
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 A incoerência entre nossos atos e nossos pensamentos a respeito dos animais vem do seu estatuto de propriedade. Segundo a lei, “os animais são propriedades, do mesmo modo que objetos inanimados como os carros ou os móveis”. Os animais são considerados pertencentes ao patrimônio do Estado, que os põe à disposição do povo; mas eles podem tornar-se propriedade de indivíduos por meio da caça, do amestramento ou confinamento. O «sofrimento» dos proprietários, por não poder usufruir de sua “propriedade” a seu bel-prazer conta mais do que a dor do animal. A partir do momento em que se trata de interesses econômicos, não existe mais limite para a utilização ou para o tratamento abusivo dos bichos.
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 A criação intensiva, por exemplo, é autorizada porque se trata de uma exploração institucionalizada e aceita. Os industriais da carne avaliam que as práticas de mutilar animais, sejam quais forem a dor e o sofrimento suportados por eles, são normais e necessários. Os tribunais presumem que os proprietários não infligirão intencionalmente atos de crueldade inútil, que diminuiriam o valor monetário do animal. As leis de bem-estar animal visam proteger os animais enquanto bens comerciáveis. Os avanços da indústria agro-alimentar em seu favor obedecem, em geral, a critérios de rendimento econômico, tendo os animais um valor mercantil, American Meat Institute Foundation, Washington DC, 2005.
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 Se quisermos de fato fazer avançar o estatuto do animal em nossa sociedade, devemos aplicar o “princípio de igualdade de consideração” (regra segundo a qual devemos tratar de modo igual os casos semelhantes), uma noção essencial a qualquer teoria moral. Mesmo que exista um grande número de diferenças entre os humanos e os animais, pelo menos uma coisa fundamental nos aproxima: nossa capacidade de sofrer.
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 Se nosso desejo de não fazer os animais sofrerem inutilmente reveste-se de alguma significação, deveríamos então conceder-lhes a igualdade de consideração. O problema é que a aplicação desse princípio já fracassou no tempo da escravidão, que autorizava pessoas a exercer um direito de propriedade sobre seus semelhantes. A instituição da escravidão humana era estruturalmente idêntica à da possessão de um animal. O escravo era considerado um bem, seu proprietário podia não levar em conta seus interesses se isto não lhe fosse economicamente proveitoso.
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 Admitia-se, certamente, que o escravo podia experimentar sofrimento. Todavia, as leis para o respeito de seu bem-estar fracassaram pelas mesmas razões que as leis pelo respeito ao bem-estar animal fracassam em nossos dias: nenhum limite real é fixado para o nosso direito de propriedade. Os interesses dos escravos só eram preservados quando geravam lucro para os proprietários ou atendiam a seus caprichos.
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 Atualmente, o interesse de um ser humano em não ser considerado propriedade é protegido como um direito. Ter o direito fundamental de não ser tratado como uma propriedade é uma condição mínima para existir como pessoa. Se quisermos modificar a condição dos animais, devemos estender a eles este direito que decidimos aplicar a todos os humanos, sejam quais forem suas particularidades. Isto não erradicaria todas as formas de sofrimento, mas significaria que os animais não poderiam mais ser utilizados como fonte de lucro. Por que julgamos aceitável caçar animais, aprisioná-los, exibi-los em circos e zoológicos, utilizá-los em experimentações e comê-los - em outras palavras, tratá-los como nunca ousaríamos tratar ser humano algum?
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Libertar o animal, objetivo humanista
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 A tese segundo a qual os seres humanos são dotados de características mentais completamente ausentes nos animais é contraditória com a teoria da evolução. Darwin afirmava que não existem características exclusivamente humanas: “A diferença de inteligência entre o humano e o animal mais evoluído é uma questão de grau e não de espécie.” Mesmo se não somos capazes de avaliar a natureza precisa da consciência animal, parece evidente que todo ser dotado de percepção é consciente e possui uma existência mental contínua. O professor Antonio Damasio, um neurologista que trabalha com pessoas atingidas por infartos cerebrais e graves danos ao cérebro, atesta que estes doentes possuem o que ele chama de «núcleo de consciência». Os humanos que sofrem de amnésia transitória, por exemplo, não têm noção alguma do passado ou do futuro, mas conservam uma consciência de seus corpos em relação aos objetos e aos acontecimentos presentes. Damasio afirma que numerosas espécies animais detêm esse mesmo núcleo de consciência
. O fato de eles não terem noção autobiográfica de suas vidas (pelo menos que seja do nosso conhecimento) não significa que não tenham uma existência mental contínua, ou que não experimentem interesse algum por viver, ou que o matador lhes seja indiferente. Os animais possuem uma inteligência considerável e são capazes de tratar uma informação de modo sofisticado. Como os humanos, comunicam-se com membros de sua própria espécie. Está provado, por exemplo, que os grandes macacos utilizam uma linguagem simbólica.
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 Talvez nenhum animal - exceto o ser humano - seja capaz de se reconhecer em um espelho, mas nenhum humano é capaz de voar ou de respirar debaixo d’água sem ajuda. Por que a capacidade de se reconhecer no espelho ou de utilizar a linguagem articulada seria superior, no sentido moral do termo, ao poder de voar ou de respirar debaixo d’água? A resposta, bem entendido, é que nós o proclamamos. Mas não existe razão alguma para concluir que as características pretensamente exclusivas do ser humano justifiquem o fato de que tratemos o animal como uma propriedade mercantil. Alguns seres humanos são privados destas características, e no entanto nós não os consideramos objetos. Por conseguinte, a questão central não é: os animais podem raciocinar? Ou: podem falar? Mas, precisamente: eles podem sofrer?
 

Se quisermos que seus interesses sejam respeitados, temos que conceder-lhes apenas um direito: o de não serem mais equiparados a uma simples mercadoria.
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Tradução: Elisabeth Almeida, betty_blues@hotmail.com
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René Descartes, Discours de la méthode, 5a parte (sobre o animal-máquina), (1643).Cf. Animals (Scientific Procedures) Act, Londres, 1986. Ver também, para a União Européia, a diretriz 86/609/CEE, de 24 de novembro de 1986, relativa à proteção dos animais utilizados para fins experimentais ou outros fins científicos. 
Ler entrevistas com Gary L. Francione: www.friendsofanimals.org/programs/animal-rights/interview-with-gary-francione-french.html e http://veganrevolution.free.fr/documents/itwfrancionefrancais.htmlA concepção ocidental moderna da propriedade, segundo a qual os recursos são bens específicos que pertencem ou são atribuídos a indivíduos particulares, com a exclusão de qualquer outro, tem sua origem na decisão de Deus de conceder aos humanos o poder de reinar sobre o mundo animal (Gênese, 1:26 e 1:28). 
Godfrey Sandys-Winsch, Animal Law, Shaw, Londres, 1978. 
No que se refere à proteção do animal de fazenda na Europa, em 30 de março de 2006 aconteceu em Bruxelas a primeira Conferência da União Européia sobre o Bem-estar Animal [Nota da Redação do LMD-França]. 
Por exemplo, um conselheiro da rede de fast food Mc Donald’s disse: “Os animais em boa saúde, bem tratados, permitem à indústria da carne funcionar com eficácia, sem problemas e com um bom rendimento.” Ler Temple Grandin, Recommended animal handling guidelines for meat packers.
Ler Antonio Damasio, Ao encontro de Espinosa, Europa-América, Lisboa, 2003. 
Ler também resenha do livro, por Maurício Marques de Silva, na Revista de Psiquiatria do Rio Grande do Sul.Este texto foi produzido pela redação do Le Monde diplomatique a partir da apresentação de Gary Francione no colóquio, “Teorias sobre os direitos dos animais e o bem-estar animal” realizado na Universidade de Valença, Espanha, de 15 a 19 de maio de 2006.

sábado, 13 de setembro de 2008

Demandas Diversas

"Somos todos responsáveis por tudo que acontece no meio em que vivemos. Por isso estamos aqui. De uma árvore que sofre a uma criança que sorri." (FMV, Escritos Esparsos, 2008, http://fmarcondesvelloso.blogspot.com)
 

Biblioteca "Le Monde Diplomatique", por assunto, região, país, autor. Temas permanentes e edições mensais
http://www.diplomatique.org.br/diplo_no_mundo.php
http://www.diplomatique.org.br/acervo_online.php

"A mulher e o homem devem estar juntos, lado a lado, cúmplices no compartilhar respeitoso e solidário de edificação da Família Humana e preservação do Lar Terrestre." (FMV, Escritos Esparsos, 2008, http://fmarcondesvelloso.blogspot.com)
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Anexo 1) Anistia Internacional
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Anexo 2) Uma Canção
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Anexo 3) WWF

sábado, 30 de agosto de 2008

Ética: Cidadania Universal


ÉTICA: CIDADANIA UNIVERSAL
 

 Nos tempos presentes, em que o homem parece estar ainda mais perplexo e às voltas pela procura de si mesmo, o tema da ética, quer seja em nível pessoal ou social, pertence a cada um de nós. Seu mister e suas complexidades põem em questão as instituições e as organizações da sociedade civil e universal, engendradas até ao início desse terceiro milénio do nosso calendário mais próximo.

 A questão, introduzida na filosofia ocidental por Aristóteles, parecia dispensar-lhe demonstração, por evidenciar a existência do ethos na própria acção ou práxis humana, pela lógica de o indivíduo manifestar-se não apenas na natureza, mas por meio de hábitos, costumes, leis e organismos, todos produzidos e assentados ao longo da pouco serena experiência humana. A sua gravidade respeita à sua morada, à engenharia de um povo ou de toda a sociedade dos homens.

 Ao contrário da natureza, edificada pelo impulso das necessidades, de sua repetição e de seus avanços, o ethos confunde-se nas liberdades e diferenças, não meramente subjectivas. Exemplifica-se aqui a cidade grega, pensadora de suas leis como expressão da natureza e da ordem cósmica na encarnação da justiça. Assim como o antigo Israel, convencido de que suas leis e órgãos eram justos por essência, ao postular como fundamento a santidade de Deus. Contudo, a razão do tempo reforma o desacerto de uma visão insuficiente ou falha da realização humana no decorrer da história, transborda os valores mais elevados dos direitos e deveres correspondentes das distintas épocas ou períodos da civilização.

 A fome e a sede de justiça de que falava Mateus, daqueles que procuram corajosamente ser fiéis aos valores humanos e são espetacularmente vitimados pela crise da ética, quando falta honradez na vida política, profissional e particular, quando os patamares de violência, de exclusão social, de abuso do poder, de corrupção, da truculência, do cinismo e da hipocrisia abafam as mais elementares aspirações, traduzidas na efectividade de um direito que não se opera ou alcança em pleno, por mais leis e instituições que se estabeleçam ou inventem. Passa-se como normal ou inevitável ao que não se dá absolutamente nenhuma justificativa ética, no aprofundamento das angústias e das ansiedades da crise actual em face dos que relutam em comportamentos moralmente correctos e socialmente construtivos, tendo por escopo as mudanças, inclusivamente culturais, sem as quais não se conquistam justiça e dignidade na sociedade. Pior, atingem-se a uma ainda mais profunda degradação das relações sociais e a um aumento insuportável das injustiças mundanas, da insensatez prevalente e de suas mazelas reinantes. Sinais dos tempos do pós-modernismo, do pós-comunismo, do pós-capitalismo, do pós-tudo, da pós-história, da pós-arte, dos pós-ideais, do pós-homem a ser reinventado.

 A dimensão ética, afinal, é a dimensão propriamente humana da existência, não só da moral, não só da ciência da acção comunitária, social, política, universal, a resultar racionalmente em lei ou em uma ordem mundial, local, regional e global, que possa ser aceita livremente e reconhecida por sua harmoniosa justiça e pacificação. Entretanto, a vida social tem sido regida quase que por regras meramente técnicas, em que os interesses do sistema económico desse ou daquele instante reduzem o ser humano a algo montado artificialmente, longe de suas raízes morais, intelectuais e espirituais que são, na verdade, os seus sustentáculos perenes para a sua evolução e auto-superações pessoais e colectivas, sem que as pessoas se dêem conta disso e, consequentemente, mais vulneráveis e facilmente tragadas pelo controlo sobre elas exercido, controlo esse sem cara, sem nome, sem personalidade definidos.

 Exageros à parte, o facto é que, na maioria expressiva dos países que cobrem os diferenciados quadrantes da Terra, sequer o mínimo bem-estar é assegurado e tampouco o sistema económico hegemónico oferece algo para além da submissão ou da miséria a que são expostas as suas populações. Afora aqueles cujo poder e riqueza não cessam de aumentar, exactamente os aproveitadores despudorados e insaciáveis detentores dessa concepção propulsora de desigualdades, restam as desvantagens e as impossibilidades a que são implacavelmente jogados os grandes bolsões da raça humana.

 Nunca os homens tivemos tantas e tamanhas responsabilidades para com o nosso próprio futuro e para a linha do desafiante curso a ser traçada com os instrumentos que construímos para o bem e para o mal, esse que é não mais do que a negação daquele. A ética, valorada em cidadania social, universal, implica novos estilos de vida e a emergência dos mais profundos anseios de realizações pessoais, transformadores do belo, dos sonhos e dos desejos, do direito às diferenças, do direito às alteridades, do ponto de equilíbrio entre as tensões do planetário, que reclama a universalização, e do pequeno, que se movimenta no pluralismo das sociedades e culturas, não se permitindo ignorar mais a redescoberta do sentido da vida e dos prazeres, das faculdades, dos dons, da celebração e da fantasia, do profano e do sagrado, em consciente propósito ético de toda acção, de todo trabalho, de toda a relação do homem com o meio em que está inserido, de sua interactividade e de seu respeito à natureza, pela preservação de nossa sobrevivência bem como pela viabilidade da permanência da existência da vida terrestre para as gerações que virão depois de nós.

 No plano da ética o ser humano se move como pessoa capaz de intersubjectividades, cujo relacionamento social e comunitário tem uma dimensão histórica de alguma forma condicionante de seus actos e de seus juízos diante das concretudes. Nesse tópico nota-se que a liberdade real está no apelo a uma vida ética, principalmente enquanto se acolhe a voz da consciência, no reconhecimento dos direitos e deveres de todos e não apenas dos próprios e particulares, pondo em relevo o conteúdo da consciência moral.

 Podemos, então, falar da ética da solidariedade, pois o ser humano só atinge a sua realização onde as pessoas reconhecem-se mutuamente. Na medição dos outros faculta-se ao homem a glória de sua liberdade responsável, de tal sorte a que qualquer forma de dominação dele sobre os seus obsta em si mesmo a sua evolução histórica, configurada na vida concreta das pessoas em suas leis, costumes e instituições.

 O comum das pessoas a buscar rectidão não somente na intenção recta, valendo-se de sua experiência de vida para discernir e avaliar, compreender e articular a situação comunitária e os desafios de seu tempo, se inscreve nos clamores de mudança, aponta para um futuro, de facto, novo. Porquanto, no peso determinante dos vínculos de fraternidade que ao final se firmam entre pessoas e povos estão as consequências sociais e ecológicas de seus actos, destinadas pelo discernimento ético de cidadania a que chamamos universal. Isso pode e deve ser realizado não restritivamente por esse ou aquele, não especificamente por profissões e áreas técnico-científicas, mas em todas as dimensões do humano. Mais do que a procura escrupulosa de definir regras e dogmas para todo e qualquer caso, o comportamento individual e a consciência ética criam a oportunidade de realização de uma nova sociedade. Daí a importância da conversão entre o indivíduo e a reforma das estruturas sócio-políticas, na comunhão de moralidade pessoal e de ética social, fincada em forma de cidadania, a caminho de um consenso substancial de valores tais, inafastáveis ao reconhecimento da dignidade da pessoa humana, na consolidação de uma sociedade mais dinâmica e atenta às demandas actuais, onde a ética como cidadania universal se faz no quotidiano do comportamento que tem por princípio a realização de todos.

 Assim, não se deve tomar ética isolada e separadamente, não se deve afastar a ética pública da ética privada, por ambas visarem a um único e mesmo escopo de renovação, na conciliação, tanto quanto possível, do justo e da força, a fim de que o forte não seja tão insensivelmente injusto e o justo não seja tão caladamente fraco. Não se pode conceber ética à margem da política e do serviço público, à margem da economia, à margem da comunicação social, enfim, à margem da realidade que cerca o homem em qualquer de sua actividade pessoal, profissional. Em paráfrase a João Crisóstomo, nossa vida deveria ser tão ética que não precisasse de mais nada, uma vez norteada em princípios de solidariedade, subsidiariedade e responsabilidade universais.

 A ética não faltará a quantos se esforcem para legar a certeza de que é perfeitamente possível a construção de uma sociedade em que toda a pessoa humana tenha os seus direitos reconhecidos e, por si própria, consciente de seus atributos, deveres e obrigações, empreste a sua cidadania para o reconhecimento da dignidade de todos. Do contrário, em resultante implacável, o amanhã continuará a ter, acrescido de novas marcas, a velha cara de hoje, tão maculada pelas histórias e mazelas de sempre, a nós lançadas para ser vencidas com um pouco mais de coragem e um pouco menos de omissão, um pouco mais de sabedoria e um pouco menos de egoísmo. Isso nos é possível e nos é dado realizar. Daí os desafios que temos pela frente e, principalmente, dentro de nós.


Flávio Marcondes Velloso, professor, escritor, membro da Associação de Direito e Economia Europeia da Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, do Instituto Pimenta Bueno da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, da União Brasileira de Escritores, fundador do Partido Budista Brasileiro, uma referência moral, virtual, autor de "Tribunal Internacional de Justiça. Caminho para uma Nova Comunidade", ISBN 85-86633-42-9 , de "Ensaios Jurídicos. Temas Inéditos", ISBN 85-86633-09-7, compreendendo "Direito de Ingerência por Razões Humanitárias em Regiões de Conflito. Corredores Humanitários", "Fidelidade Partidária, um Desafio à Democracia do Brasil", "Direito do Mar, Área, Partida para um Novo Direito Internacional", dentre outras publicações. Endereço eletrônico fmvprofessor@gmail.com . Blog http://fmarcondesvelloso.blogspot.com . Página no Facebook http://www.facebook.com/flaviomarcondesvelloso .
 
(Publicado em "Justiça e Cidadania", suplemento de "O Primeiro de Janeiro", 25-01, Portugal, 2002)